quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O racional irracional

Há um tempo atrás, morava com minha prima em São Paulo. E era o começo de muita coisa. Vidas mudando e, claro, muitas pendências para o ajuste do apartamento. Instalações básicas a fazer, móveis e eletrodomésticos a comprar. Tudo ainda engatinhando. Diante de tantas responsabilidades numa cidade onde não se conhecia praticamente ninguém, e onde apenas nós duas deveríamos resolver os problemas de casa, era normal que algumas coisas dessem errado ou demorassem certo tempo para se acertarem. Mas, como o estresse da responsabilidade era muito, a gente sempre achava que quando algo não dava certo era porque tinha alguma energia que estava indo contra a gente. Eu acredito em energias. Mas continuava, como uma formiguinha cega e instintiva, o meu caminho. Naquela época, o nosso. Tinham coisas que aconteciam que eram mesmo absurdas, como chegar em casa e não ter energia porque a pessoa que nos alugou o apartamento não tinha pago a conta anterior. Era de ter raiva? Era de morrer de raiva.

Algumas pessoas sabiam de toda nossa ladainha, e uma delas era amiga da minha prima. Ela, cabisbaixa, reclamava à amiga que estava encontrando muitos problemas durante sua instalação no apartamento. A amiga, psicóloga, já tratou de resolver o problema nos presenteando com um vaso bem grande de Espada de São Jorge: "é para proteger a casa e espantar as energias ruins".

Eu achei ótimo porque acredito em algumas coisas assim. Também adoro plantas e tinha até um pézinho de pimenta para espantar maus fluidos do meu/nosso pequeno apêzinho. Depois fui percebendo que a tal da Espada de São Jorge estava em praticamente todos os lugares: em frente de lojas de roupas, de lanchonetes, lanhouses, restaurantes, cafés... e por aí vai. Todo mundo querendo dar um belo susto no olho gordo que se aproximar. Mas, até aí tudo bem. Apesar de estarmos em São Paulo, o grande centro econômico brasileiro, cheio de pessoas céticas e que mal se bezem quando vêem um morto que foi atropelado na Paulista.

O que eu achei um tanto diferente foi um dia ver, na entrada de uma empresa internacional completamente voltada à tecnologia a tal da Espada de São Jorge. Quando vi, salvei imediatamente a imagem e pensei que, apesar de toda nossa racionalidade, não tem jeito. A pontinha do irracional está sempre ali, esperando a brecha para se mostrar.




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