segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O bichinho que corrói

Eu acho que nunca na vida pensei que fosse sentir tanta saudade. Tenho saudade de minha terra ( quem diria?), dos meus pais, da família com todos os primos e tios e sobrinhos, do calor, dos amigos. Tenho saudade até da preocupação à toa pela vida dos outros. Tenho saudade do povo que trabalha na minha casa, da comida pronta ao meio-dia, dos problemas de todos os agregados, de parar pra ouvir como vai a vida. Tenho saudade de mim também. De minha alegria de quando eu não tinha saudade de nada, nem de ninguém. A saudade é um bichinho que corrói. Não é que eu seja ou esteja infeliz, mas saudade deixa a gente incompleto.

domingo, 20 de março de 2011

Borbolete!


"A alma é uma borboleta...

há um instante em que uma voz nos diz

que chegou o momento de uma grande metamorfose..."


Autor desconhecido

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Chuva



Hoje chove.
Por dentro e por fora.
Lá fora ouço os pingos de chuva lavando toda a rua. Aqui dentro sinto os soluços espirrarem pingos de lágrimas, que limpam a maquiagem do meu rosto.
Lágrimas difíceis.
Coisas de gente que tenta entender, tenta sentir.
Sente demais e entende de menos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O processo




Criei coragem e enfim terminei a mandala que tinha postado hoje, como semi-finalizada. Aí vão algumas imagens do processo e o resultado final! Adorei!


Mandala de mosaico


Ando meio parada com meus mosaicos. Mas tenho percebido que agora estou fazendo tudo com mais rapidez. Em uma tarde terminei essa mandala que vou dar de presente de Natal para minha irmã. Espero que ela goste!


Só falta o rejunte pra ficar tudo ok. Ando com preguiça de rejuntar, porque é o que faz mais sujeira! Espero que até o dia 24 eu crie coragem para terminar! O principal já está feito! :D

Das cores


Não sei porque gosto tanto de falar de cores. O que acontece é que elas causam em mim sensações. Por isso acredito que realmente existe o lance da psicologia das cores. Acredito e sinto que o azul passa segurança e tranquilidade. Quer coisa mais bonita que aquele azul no céu? Geralmente o céu azul me faz suspirar e traz sim sensação de aconchego e paz. Será por isso que o azul traz consigo esse sentimento de segurança tão buscado pelas empresas de seguro? Será que é porque lembra o céu? Deve ser...
Mas quero mesmo falar de um livro que eu vi na Bienal de Artes de SP desse ano. Fui no último dia! E consegui ver muita coisa! Menos os urubus voando que estiveram por lá no começo da Bienal. Tinha um espaço da Bienal que era constituído de livros. Vários. Esses livros eram a resposta de alguns artistas à pergunta: Que livro melhor te representa? Algo assim. Tinha um livro gigante do Pequeno Princípe, aberto na página onde a raposa conversava com o pequeno Príncipe e falava da história de cativar. Tinha muitos livros interessantes, mas esse eu achei bem legal.


Escala de cor das coisas, totalmente figurado. Muitas cores nós identificamos por coisas. Já perceberam? Tipo cor de uva ou cor de rosa. Já viram cor de burro quando chove? rs. É algo meio cinza e marrom! Eu acho. O legal desse livro é que ele mostra o nome das cores com as imagens das mesmas representadas pelo objeto que dá nome à cor. Então no catálogo tinha o verde-bandeira devidamente representado pela bandeira brasileira e o amarelo-ovo representado por um close na gema do ovo.

Tinha ainda a cor carne, a laranja e a ostarda literalmente representadas. Eu achei uma forma bem interessante de mostrar como nosso conhecimento é baseado nas informações que fazem parte do nosso cotidiano. Tudo que conhecemos e que hoje está nos livros, saiu da interação de alguém com o mundo. Observar as cores do mundo nos dá a dimensão da vida.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

UM PASSEIO SOCRÁTICO


Hoje, recebi esse texto no email e tive grande necessidade de repassar. Tirando a visão radical a respeito do virtual, achei bem interessante. Para pensar...



Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: Que pena, a Daniela não disse: “Tenho aula de meditação!””

A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um super-executivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega AIDs, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra!

Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.

Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é “entretenimento”; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega!

Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose. Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globo-colonizador, neoliberal, consumista.

Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima e ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se shopping centers. É curioso: a maioria dos shoppings tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...

Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas.

Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe, de que não preciso, para ser feliz.”


FREI BETTO - Carlos Alberto Libânio Christo, escritor e assessor de movimentos sociais.